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ELEIÇÕES 2014 - Candidatos trocam farpas em planos de governo

Em documentos com propostas de gestão entregues ao TRE, Beto, Gleisi e Requião aproveitam para incluir alfinetadas

Pedro França/Agência Senado
Requião foi o candidato que apresentou um programa mais extenso ao TRE: são 158 páginas
Antonio Cruz/ABr
Gleisi quer criar um "Conselho de Transparência Pública e Combate à Corrupção"
Celso Pacheco
Beto afirma que continuará investindo no modelo de gestão baseado em Parcerias Público-Privadas
Curitiba - Os programas que os principais concorrentes ao governo do Paraná protocolaram junto ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) reproduzem o tom deste início de campanha, com críticas aos desempenhos dos rivais à frente dos cargos que já ocuparam. A reportagem analisou esses documentos, entregues no início do mês, no momento do registro das candidaturas. Eles estão disponíveis no sistema DivulgaCand2014, no site do TRE.

O senador Roberto Requião (PMDB), com três passagens pelo Palácio Iguaçu, e o atual governador, Beto Richa (PSDB), preferiram reforçar as suas realizações. Já a senadora e ex-ministra da Casa Civil Gleisi Hoffmann (PT) apresentou o que chama de ideias para "construir um novo tempo". Na edição de amanhã, a FOLHA também mostrará o que propõem os "nanicos", que correm por fora na disputa.

Chamado de "diretrizes de governo", o plano de Gleisi sintetiza, em 36 páginas, o que ela diz ter sido fruto de debates promovidos em todas as regiões do Estado. O documento, a ser complementado após a realização de novas plenárias, é norteado em cinco eixos, "não divididos, mas integrados". As propostas, no entanto, são vagas, ficando mais no campo da sugestão.

Logo na apresentação, a petista alfineta seus dois rivais. Primeiro, afirma que apresenta "ideias verdadeiras e factíveis, que dão adeus ao tempo do jogo de cena, das ameaças". Em seguida, condena os "discursos vãos, que transformam choque de gestão em uma falência financeira" e "o governo que mergulhou o Paraná na incerteza e no caos financeiro". As declarações são uma resposta ao fato de a gestão tucana ter extrapolado, no ano passado, o limite da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) no que diz respeito aos gastos com o funcionalismo.

O eixo participação é o que concentra mais ideias concretas, como a de criar um "Gabinete Digital", diretamente ligado à governadora, para articular as ações do sistema estadual de participação social. A nova unidade teria a incumbência de "orientar e garantir a participação cidadã na definição dos rumos do governo". Outra promessa da petista é instituir o Conselho de Transparência Pública e Combate à Corrupção, órgão colegiado e consultivo, que seria vinculado à Controladoria Geral do Estado.

Os demais itens são mais genéricos. Como que adiantando a propaganda no rádio e na televisão, Gleisi fala em "planejar as ações", em "transformar intenção em realização", em "entregar no tempo certo, direito e de forma correta". Diz que o servidor merece ser valorizado, que promoverá a inclusão social e ampliará a prestação de serviços públicos essenciais às famílias de baixa renda. Na saúde, na educação e na cultura, o plano também parece mais uma carta de intenções. "Desenvolver e implementar políticas públicas que cuidem do paciente e não da doença", "estimular e qualificar a produção e a disseminação de saberes" e "democratizar a construção das políticas de financiamento, produção e difusão cultural" são algumas das propostas listadas.

Requião foi o candidato que apresentou um programa mais extenso ao TRE. Das 158 páginas do plano, 25 são dedicadas a sugerir ações para "restabelecer o governo do Paraná", sempre com comparações entre a sua gestão e a atual, chamada por ele de "desgoverno". Em linhas gerais, o peemedebista diz que irá reabilitar o conceito de interesse público e retomar as políticas de transparência. No restante do documento, consta um anexo, o "dicionário das realizações da administração 2003-2010", no qual o senador reúne os principais programas e obras executados durante o período em que foi governador.

Resgatar e recuperar são os termos mais utilizados por Requião. Na saúde, ele propõe, por exemplo, concluir as obras, equipar e contratar pessoal para o pleno funcionamento da rede de 44 hospitais regionais, além de construir unidades para atendimentos de alta complexidade. Também diz que pretende retomar as Clínicas da Mulher e da Criança e expandir os 2.500 postos de saúde e as 2.000 equipes de médicos da família. "A estrutura existe, cobre todo o Estado, mas é preciso colocá-la em movimento", argumenta. Na educação, além de reaver programas de sua gestão, ele se compromete a dar "um passo adiante", com a escola integral, retomar a política de expansão do ensino técnico-profissional e manter as universidades estaduais gratuitas. Também crava que, em seu governo, "o Paraná será o primeiro Estado brasileiro a erradicar o analfabetismo".

Para a segurança, o senador propõe retomar o programa da Polícia Comunitária, o Projeto Povo, com os módulos móveis da Polícia Militar (PM), os Bombeiros Comunitários e as Patrulhas Rurais, enquanto na agricultura sugere a expansão do "Trator Solidário", que apostava na mecanização como chave para a viabilização da pequena propriedade. Também estão no documento o imposto zero para as microempresas, a drástica redução do imposto das pequenas, a integração com os países do Mercosul e da América Latina e maior investimento nas áreas rodoviária, ferroviária, portuária e aeroportuária. Por último, o senador diz que irá manter, expandir e aperfeiçoar os programas Leite das Crianças, Luz Fraterna e Tarifa Social da Água, entre outros.

Se há quatro anos, quando concorria pela primeira vez ao Palácio Iguaçu, Beto Richa chegou a fazer promessas, como diminuir as despesas correntes, reequacionar a dívida pública e até erradicar o trabalho infantil, desta vez ele preferiu enaltecer os feitos de sua gestão. No plano de metas 2015-2018, o tucano fala em dar continuidade e aperfeiçoar o documento "aprovado pelos paranaenses nas eleições de 2010".

As primeiras 42 das 54 páginas apresentam os avanços que ele diz ter promovido, enquanto as demais se destinam a estabelecer diretrizes para uma eventual reeleição. Ao longo do texto, o atual chefe do Executivo abusa de frases de efeito, como: "de todas as palavras, consciência é a que exprime com maior precisão a forma de agir da gestão Beto Richa", "um governo se avalia pelo conjunto da obra, na perspectiva de que o Paraná é a exata soma das suas diferenças", e "o Estado deve ser bom por inteiro e para todos".

Entre as decisões que tomou desde a posse, o governador enfatiza duas: a recuperação da credibilidade política e a restauração da segurança jurídica – "que se haviam diluído em personalismos e bravatas incontidas do governo passado", numa referência à gestão de Requião. Também como forma de alfinetar o peemedebista, conhecido pelos discursos efusivos, ele completa: "sabemos que a incompetência é barulhenta e mal-humorada, e a eficiência, amigável e sincera".

De forma mais indireta, Beto cutuca Gleisi, que chefiou a Casa Civil durante boa parte da administração de Dilma Rousseff (PT). "(O Estado continua) submetido a um inaceitável boicote por parte do governo federal na liberação de empréstimos importantes para a retomada do nosso desenvolvimento. E não há dúvida: foram e continuam sendo atos de retaliação política."

Em relação ao triênio 2011-2013, o tucano destaca o crescimento médio anual de 4,1% do Produto Interno Bruto (PIB), "ante acréscimo de apenas 2,0% ao ano para o País". As informações são contrapostas a críticas à gestão do PT na Presidência da República: "mesmo diante da conjuntura internacional desanimadora e das respostas equivocadas da política econômica do governo central".

Assim como os demais, o programa tucano não estabelece metas quantitativas, mas cita que áreas fortes e sensíveis, como saúde, educação, agricultura, habitação e segurança, seguem prioritárias. Beto deixa claro, ainda, que continuará investindo no modelo de gestão baseado em Parcerias Público-Privadas (PPPs), visando "reduzir os procedimentos burocráticos, atingir maior eficiência e menor custo operacional", e que definirá prioridades para a implantação de uma rede integrada de logística abrangendo todos os modais no Estado, num horizonte mínimo de 10 anos.

Outra promessa mais concreta é a conclusão do Trem Pé-Vermelho. A obra interligará as cidades de Ibiporã e Paiçandu, passando por 13 municípios, numa extensão de 152 quilômetros. Apesar das críticas que faz à União, aqui o governador destaca o fato de o projeto, orçado em R$ 10 milhões, ter sido autorizado pelo Ministério das Cidades no dia 23 de junho.
Mariana Franco Ramos
Reportagem Local-folha de londrina
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