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EDUCAÇÃO - A origem do ensino superior em Londrina

No mês em que a UEL completou 43 anos de reconhecimento, alunos dos primeiros cursos falam da luta para implantá-la

Rei Santos
Primeira turma de Direito: Fuad Sérgio Ferreira, Paulo Turce, Willian James, Sebastião Nei dos Santos, Nélio Niero, Paulo Silva e Nilson Molina (em pé, da esq. p/ dir.) e Edgar Baer, Akira Ito, Yolan
CDPH/UEL
Na Odontologia, primeiro grande desafio foi conseguir um lugar onde o curso pudesse funcionar
Ricardo Chicarelli
Ivan Giácomo Piza diz que o curso de Odonto nasceu graças ao esforço de um grupo de dentistas da cidade
Londrina - Entre o final da década de 1950 e começo dos anos 1960, Londrina começou a mudar os rumos de sua vocação. Naqueles anos foram criados os primeiros cursos superiores que, mais tarde, dariam origem à Universidade Estadual de Londrina (UEL). A instituição que completou há poucos dias 43 anos de reconhecimento por parte do Ministério da Educação (MEC) foi determinante para a definição do perfil de cidade universitária: hoje são cerca de 25 mil estudantes frequentando as dez faculdades e universidades de Londrina. Só na UEL, entre alunos de graduação e pós-graduação, são mais de 17 mil.

O que poucos conhecem são as lutas que marcaram os primeiros anos do ensino superior na cidade, com os pioneiros cursos de Filosofia, Direito e Odontologia. Em comum, eles têm o fato de terem sido iniciados com pouca ou nenhuma estrutura. "Como não havia professores, foram escolhidos profissionais e lideranças da cidade para dar aulas, entre eles d. Geraldo (Fernandes), que ministrava as aulas de Direito Romano", lembra o advogado Edgar Baer, um dos integrantes da primeira turma de Direito da instituição.

Na Odontologia, o primeiro grande desafio foi conseguir um lugar onde o curso pudesse funcionar. "A criação da faculdade foi mais política, por meio de um decreto. Mas não tinha mais nada além do decreto: não tinha verba, não tinha local, não tinha professores", conta o cirurgião dentista Newton Expedito de Moraes, primeiro diretor da faculdade e responsável por fazer o sonho sair do papel. Em uma Londrina de pouco mais de 130 mil habitantes, ele muitas vezes teve que recorrer a amigos e empresários locais para viabilizar a estrutura mínima para funcionamento de laboratórios e salas de aula.

Os cursos de Direito e Filosofia foram criados e iniciaram as atividades à mesma época. O primeiro foi criado em junho de 1956 e teve o início das aulas autorizado em março de 1958. A Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Londrina, também criada em 1956, fazia parte de um conjunto de cinco faculdades isoladas. Da mesma forma que o Direito, iniciou suas atividades em 1958, no prédio do Colégio Estadual Hugo Simas, no centro.

A UEL seria criada só 12 anos depois, por meio de um decreto estadual. O reconhecimento viria logo depois, pelo decreto federal 69.234 de 07/10/1971. Para quem vê a estrutura existente hoje, os desafios dos primeiros anos são inimagináveis.

"Quando foi publicado o decreto criando o curso de Odontologia, começamos a procurar pela cidade um local onde ele pudesse funcionar. Não havia. Além das salas de aula, era preciso ter espaço para montar os laboratórios, o que criava uma situação bem difícil. Resolvi ir conversar com o d. Geraldo. Ele parou, pensou e resolveu me mostrar umas salas vazias que havia no subsolo da Catedral. Me perguntou se eu achava que daria para iniciar o curso ali. Eu disse que com algumas adaptações isso seria possível, e assim, a toque de caixa, as aulas puderam começar de forma provisória, em 1962", relembra Newton Moraes.

Ao final do primeiro ano de funcionamento o diretor da faculdade voltou a conversar com o arcebispo, que entrou em contato com o governador da época, Ney Braga, sugerindo que fosse retomado o projeto de construção do prédio para abrigar as faculdades da cidade, nos fundos do Colégio Hugo Simas, com clínica e laboratórios. A sugestão foi acatada, e a partir do segundo ano a primeira turma de Odonto já assistia às aulas em um prédio com cara de faculdade. Mas para garantir uma estrutura capaz de abrigar as novas turmas que entravam a cada ano, o diretor se desdobrou. Mais de uma vez, acionou empresários e comerciantes da cidade para levantar recursos para novas construções. "Naquela época éramos todos amigos. Alunos e professores se uniam para fazer promoções, lutar juntos por uma causa, por isso tudo dava certo."

Para garantir o mobiliário necessário na nova faculdade, Moraes chegou a montar uma serraria junto à faculdade. "Também tínhamos uma oficina para o conserto dos equipamentos. Com isso ganhávamos tempo e economizávamos recursos", conta o cirurgião dentista, hoje com 82 anos. "Cada passo era uma conquista muito comemorada", diz ele, para lembrar de outra passagem marcante e igualmente difícil: conseguir o reconhecimento do curso junto ao Ministério da Educação (MEC) antes mesmo da formatura da primeira turma. "Na época a sede ficava no Rio de Janeiro, fomos para lá e ficamos uma semana providenciando tudo."

As dificuldades eram agravadas pela falta de apoio do governo. "Lamentavelmente, não podíamos contar muito com o Estado. Em compensação, encontramos um grande apoio na Faculdade de Odontologia de Bauru (pertencente à Universidade de São Paulo - USP), que nos abriu as portas. Foi um intercâmbio de conhecimento muito intenso, uma parceria fundamental para a qualidade do ensino da faculdade de Londrina. Tanto que por muitos anos o curso manteve o conceito A", diz o ex-diretor, referindo-se à avaliação do MEC.

Moraes diz sentir orgulho de ter ajudado na criação de uma universidade com a importância da UEL, mas fica triste quando a visita, hoje em dia, e percebe que ninguém o conhece. "Meu sonho é inaugurar a faculdade de Odontologia dentro do campus universitário. É lá que ele deve estar", revela.
Silvana Leão
Reportagem Local-FOLHA DE LONDRINA
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