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SANTA CECÍLIA DO PAVÃO - O padre que virou prefeito: vocação ou missão?

Após 12 anos como pároco de Santa Cecília do Pavão, José Sergio Juventino, o padre Zezinho, está à frente da prefeitura do município e de uma série de desafios

Gustavo Carneiro
Com um salário mensal de R$ 12 mil, o prefeito padre mora em casa própria confortável e tem um carro novo na garagem
Divulgação
"Acredito que religião e política combinam sim, mas desde que seja a política social, não a partidária", atesta o bispo
Santa Cecília do Pavão - Consagrado desde a sua ordenação à Mãe Rainha e Vencedora Três Vezes Admirável de Schöenstatt, o padre Zezinho, como é mais conhecido na região de Santa Cecília do Pavão, por 12 anos esteve à frente da Paróquia Santa Cecília, padroeira da cidade (o nome "Pavão" faz referência ao rio homônimo do local), antes de decidir concorrer ao atual cargo de prefeito do pequeno município, com aproximadamente 4 mil habitantes.

De origem humilde, aos 18 anos José Sergio Juventino, que nasceu no distrito de São Judas Tadeu, em Santo Antônio do Paraíso, perdeu os pais (em decorrência de câncer e diabetes) e logo cedo se viu morando de favor em casa de parentes. A vocação sacerdotal apareceu de forma tardia e antes disso exerceu diversos trabalhos para se sustentar, inclusive o de auxiliar administrativo de uma cooperativa. "O sonho do meu pai era que eu fosse policial, mas não tinha jeito para isso. Depois, pensei até em ser artista circense ("palhaço"), por ser muito bem-humorado; mais tarde, Deus tocou no meu coração que a minha vocação era ser padre e decidi correr atrás dos estudos necessários para isso", conta o prefeito e padre.

Hoje, com 50 anos – e há quase dois anos e meio ocupando o cargo de prefeito da cidade (o único religioso a exercer esse tipo de cargo do Norte Pioneiro na atualidade) -, ele admite que os desafios são muitos – entre eles trazer indústrias para a cidade e gerar mais empregos -, mas que os enfrenta com a plena convicção de que está agindo "conforme a vontade de Deus". "Nunca imaginei que um dia seria prefeito. Foi algo que surgiu de repente, não houve ninguém que me influenciou diretamente. Um desejo que nasceu espontaneamente e acho que é fruto de uma profunda experiência com Deus", afirma, enfaticamente. "Tive três confirmações de que era esse o caminho novo que deveria seguir. A última confirmação foi durante uma missa que celebrei e senti a presença plena do Espírito Santo, em forma de uma brisa leve em meu rosto. Foi algo profundo e logo depois já escrevi uma carta ao bispo de Cornélio Procópio (na época, Dom Getúlio Teixeira Guimarães) pedindo autorização para concorrer ao cargo público", acrescenta.

Com a autorização episcopal concedida, ele concorreu ao pleito pelo Partido Popular Socialista (PPS) e lembra que Deus já havia dito em seu coração que iria ganhar, mesmo enfrentando uma forte oposição encabeçada pelo grupo do ex-prefeito da cidade, que teve dois mandatos seguidos e tinha um candidato favorito. "Consegui 1.375 votos e já havia tido uma espécie de ‘revelação’ de que obteria entre 1.300 e 1.400 votos", recorda, citando que antes mesmo de decidir concorrer ao cargo encomendou três pesquisas de intenção de votos, em que ia crescendo gradativamente, mesmo sem ser um candidato oficial até então. "Isso também, de certa forma, foi uma confirmação de que estava no caminho certo", diz.

Ao seguir o lema "Administrando com Amor", ele destaca que entre as suas principais conquistas, até agora, está a de conseguir contratar mais médicos para atender a população, inclusive um acupunturista, um ginecologista e pediatra (hoje há oito médicos, inclusive um plantonista para os fins de semana; há dois postos de saúde da cidade); disponibilizar o conserto do aparelho para exames de raio-X e regularizar a Frente de Trabalho (que emprega de forma temporária pessoas carentes). Recentemente, ele inaugurou a Super Creche que atende 150 crianças e entregou 28 casas populares, obras que já haviam sido iniciadas na gestão anterior, que também deixou uma série de dívidas, inclusive de telefone (atualmente o telefone da prefeitura só recebe ligações). "Agora estou correndo atrás da documentação necessária para conseguir o financiamento de R$ 700 mil para viabilizar terrenos para a construção de mais casas do Programa Minha Casa, Minha Vida", adianta.

SECRETARIADO
Contando com 10 pastas administrativas na sua gestão e aproximadamente 300 servidores (entre concursados e comissionados), e, segundo informações do secretário de finanças, Divonei Aparecido Rui Cruz, um orçamento anual de um pouco mais de R$ 10 milhões (sendo R$ 300 mil mensais destinados apenas para pagar os servidores), ele informa que na Assembleia Legislativa da cidade tem o apoio direto de somente três vereadores, dentre os nove que compõem a Casa. "Não é fácil administrar a cidade e, se não fosse por respeito à vontade de Deus, talvez até já tivesse renunciado", desabafa.

Com um salário mensal de R$ 12 mil, hoje ele mora em uma casa própria confortável e tem um carro novo na garagem. Mesmo exercendo o cargo público, ele ainda tem autorização para celebrar os sacramentos nas redondezas quando é convidado e não abre mão de um antigo hábito: reza 12 terços por dia (sendo seis de madrugada). Numa espécie de sótão da sua casa, onde também fica o quarto onde dorme, mantém até um genuflexório diante das imagens da assunção de Nossa Senhora e de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Se pensa em se reeleger, ele ainda não sabe. Definiu "sete critérios" para que isso aconteça e ainda está em observação dos caminhos que Deus vai lhe apontar.
Ana Paula Nascimento
Reportagem Local-FOLHA DE LONDRINA
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